quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Índia

Hoje é meu último dia nesse louco país.
No total, sem contar com os dias passados no encantador Nepal, fiquei 1 mês e meio mais ou menos por aqui.

Hoje, depois de ter passado por 12 diferentes cidade pela Índia, e diferentes mesmo, porque com tantas similaridades todas elas conseguem ser bem diferentes entre si, eu tenho a minha impressão geral sobre o país, que na verdade é mais sobre o norte da Índia, já que todos dizem que o norte e o sul do país são bem diferentes.
Cheguei a Índia em Calcuta, a cidade mais esquisita que eu já vi na minha vida. Cidade grande, cheia de gente, suja, sem cuidado e muito poluída, um espanto pra qualquer um, e pra mim foi grande o choque, depois me dei conta que eu já estava muito acostumada com a Tailândia, por isso o choque foi tão grande. E mesmo sabendo que tudo seria muito diferente, não tem como se preparar para chegar a Calcuta até você chegar e ver a cidade. De Calcuta segui para Varanasi, cidade banhada pelo Ganges e cheia de cultura indiana. Mas também foi outro espanto! Deu para aproveitar um pouco, mas como ainda não estava acostumada com as pessoas me olhando o tempo todo, falando de mim o tempo todo, acabou que eu estava sempre preocupada com o redor. Foi então quando resolvi seguir para o Nepal logo, para poder me acostumar melhor com tudo aquilo e conseguir aproveitar a Índia.
Na volta para a Índia parei em Delhi, capital do país e cidade grande, suja e sem muito o que ver, pouco turística... passei só um dia por lá e segui para Agra. Agra também é uma cidade com a sujeira espalhada por todos os cantos, então comecei a achar que aquilo era algo normal. E na verdade é. Depois de todo esse tempo eu digo que não vi nenhuma lata de lixo em nenhuma cidade que eu estive. As pessoas jogam tudo pelo chão, sem nenhum tipo de preocupação, isso é normal pra eles. Tentei não colaborar com a sujeira geral do país, mas é difícil.
Em uma das muitas viagens de uma cidade para a outra, paramos em um lugar para comer, comprei um biscoito, quando terminei, como não achei uma lixeira, pedi para o dono da vendinha jogar fora, ele pegou e jogou pela janela...
Em Agra foi o primeiro lugar que eu consegui aproveitar a cidade, andar pelas ruas e de noite comer em outro lugar que não fosse o restaurante do Hotel/Guest House que eu estava hospedada.
De Agra fui para Fatherpu Sikri, cidade pequena, e uma zona, como todas as outras. Lá, como é uma cidade bem turística, sem muito o que fazer, era facil ver como o indiano sempre faz alguma coisa para tentar tirar dinheiro dos turistas. Chegam com uma história que são estudantes, que não querem dinheiro, só mostrar a cidade... como eu já havia ouvido as histórias, não dei bola, cortei logo, mas a verdade é que depois de toda a "hospitalidade" e "ajuda", eles vem pedir algo. Ou dinheiro para ajudar a família, ou o ticket de entrada do palácio, dizem eles que é para a escola, mas a verdade é que é para vender para algum turista desavisado, ou para o guia de um grupo de turistas... e isso acontece em várias cidades da Índia. Se vierem pra cá, não caiam na conversa dos "estudantes", por favor!!!!
O próximo destino foram as cidades do Rajastão, lá eu fui a Jaipur, Jaisalmer, Jodhpur, Pushkar e Udaipur. O Rajastão é uma área com uma cultura diferente do resto da Índia, os saris das mulheres são um pouco diferentes, as danças típicas são bem diferentes, as cidades não são tão sujas, então é possivel ver suas cores e belezas mais facilmente.
O povo do Rajastão é mais simpático, mais educado, é uma área que, apesar de ser árida e ter o deserto indiano, é mais rica, vive bastante do turismo local e do turismo estrangeiro. O Rajastão foi onde achei as cidades que mais gostei, foi onde eu consegui aproveitar mais a Índia, conversar mais com as pessoas e entender mais das diferenças locais.
Lá, perguntei sobre a história do filme "Quem quer ser um milionário", se o filme tinha exagerado ou se aquilo acontecia na Índia mesmo. O rapaz que eu perguntei me disse que ele retrata bem a realidade das favelas de Mumbai, sem exageros. Ele disse que ele sabe disso porque a sua família é originaria de Mumbai, se mudaram para o Rajastão para fugir daquela vida e poder ter uma vida melhor.
Enquanto eu estava no Rajastão, eu também perguntei porque era tão difícil ver mulheres trabalhando. E as respostas que eu tive foram as mesmas, que mulher na Índia não pode trabalhar, tem que cuidar da casa. Só nas cidades grande, onde as pessoas são mais liberais, que as mulheres trabalham.
Mas eu percebi que na parcela realmente pobre da Índia, aquelas pessoas que pegam no trabalho pesado das contruções, é mais fácil ver mulheres trabalhando do que homens, porque?? Ninguém quis me responder, dizeram simplesmente que é assim...
Do Rajastão segui para Goa, com uma rápida passagem por Mumbai, a maior cidade da Índia, e a maior cidade do Mundo também. Como Delhi, Mumbai não é um lugar turístico, mas com algumas coisas interessantes para ver.
Em Mumbai foi onde eu vi a primeira mulher indiana sem um sari, vi mulheres organizando e trabalhando em um evento em prol a uma instituição de combate ao cancer, e mandando nos homens, abertamente!
E Mumbai me mostrou mais uma vez a tal "hospitalidade" indiana. E pra quem acha que taxista no Rio de Janeiro é safado e engana os turistas, vem pra Índia e anda de taxi em Mumbai ou em qualquer outra grande cidade, eles são mestre em enganar os turístas, se a gente não ficar esperto paga o dobro e até 4 vezes mais que o valor real, eles fazem na cara de pau, e ainda saem rindo na sua frente. Aqui na Índia vários taxistas tentaram me enganar, um, em Calcuta, foi embora com a metade do meu troco, deu a desculpa que ia trocar dinheiro e nunca mais voltou. O outro, em Mumbai, não ligou o taximetro e queria me cobrar 200 rúpias (rúpia é o nome do dinheiro na Índia) para um percurso que teria dado umas 30 rúpias, dei 50 pra ele, ele reclamou um pouco, depois riu e foi embora. Em Mumbai também, outro taxista quis me dizer que o taxímetro marca os minutos, e não o valor, queria me cobrar 800 rúpias sendo que tinha dado 400, como eu não tinha trocado, dei uma nota de 500 rúpias e saí andando, ele ameaçou um escandalo, como eu não dei bola, ele foi embora e ainda buzinou pra mim... e no Rio de Janeiro é que os caras são "esperto"...
Felizmente nem todos são assim. Preferi andar de rickshaw, ou a motor ou guiados por bicicletas, comuns em pequenas cidades no norte. Eles são mais simpáticos, menos aproveitadores, mais pobres. Tive conversas interessantes com alguns que falavam inglês, outros só conseguiam entender o destino final...

De Mumbai fui para Goa, o estado mais diferente que encontrei na Índia.
Goa foi um dos poucos lugares colonizado pelos portugueses, então é fácil ver igrejas cristãs pelas vilas, onde o sino toca a cada hora e aos domingos chama para as missas. Goa é conhecido como o estado das festas na Índia, praticamente tudo é liberado e os lugares não fecham as 23:30. E por lá dá muito turista, tanto estrangeiro como indiano que vai fugir do conservadorismo do país. A praia é limpa, o caminho pra praia tem lixo por todos os lugares, mas a praia é limpa, de águas agradáveis. As ruas em Goa não são sujas e lá foi o primeiro lugar que eu consegui relaxar realmente na Índia, sem me preocupar com nada, sem ter gente me olhando o tempo todo, sem problema com o tipo de roupa que eu estava vestindo.

Durante o tempo que eu estive pela Índia sempre preferi conversar com as crianças, elas são sempre agradáveis, sorriem pra você a todo tempo e muitas vezes querem tocar em você, por ser tão diferente. Elas pedem pra gente tirar fotos delas só para se verem em uma foto. O Sari que eu tinha ganho em Jodhpur, dei para uma menina muito simpática que eu conheci em Udaipur. Ela é pobre, estava trabalhando, lavando roupa no lago, ao invés de ir para a escola. Conversamos um pouco, e como eu não iria fazer nada com aquele sari, achei melhor utilidade, e a menina ficou muito feliz.
O homens tentam conversar com os estrangeiros também, principalmente as mulheres, mas o melhor é não dar bola e não aceitar os convites, uma vez que a impressão que eles tem, é que as mulheres ocidentais são como as do filme, fáceis, e eles podem fazer o que quiserem.
As mulheres, quando falam com os estrangeiros, são simpáticas também, e elas muitas vezes falam só para pedir uma foto com você ou para poder tocar em você.
Igual nós, estrangeiros queremos tirar fotos das indianas vestidas de sari, os indianos querem tirar nossas fotos, mas eles querem tirar fotos com a gente. Alguns pedem, outros simplesmente param do seu lado e um outro tira a foto, no susto mesmo... quando eu percebia que isso acontecia eu colocava a mão na frente do rosto, mas quando eles pediam pra tirar a foto, eu deixava, sem problemas.

Me perguntaram das castas, mas isso é algo difícil de se identificar por aqui. Andando pelas ruas não é fácil de saber.

Infelizmente a Índia é um país com muita poluição atmosférica, mas em alguns lugares eu pude ver algumas mudanças, como os green richshaws, espécie de tuk-tuk do sudeste asiático. Carros que não usam combustível, são abastecidos de energia elétrica. Mas essas mudanças ainda são poucas e quase que isoladas pela Índia.

A minha impressão final da Índia, não foi a das melhores, foi o país que eu passei onde as pessoas mais tentam tirar proveito de você, não chega a ser tão perigoso se você estiver com homens ou com indianos, mas se estiver sozinha, não recomendo sair a noite. Se encontrar as pessoas certas, a gente consegue ter agradáveis conversas, mas a maioria é simpática porque quer fazer algo para tirar dinheiro de você. A maioria dos homens, quando vêem uma mulher sozinha, já querem se aproveitar dela. O trânsito é um caos, não existem leis de trânsito, mas incrivelmente os ônibus interestaduais chegam no horário. Se você não quiser viajar de trem, que cobrem quase todo o país, e no geral são seguros, compre os ônibus turísticos, que são confortáveis. Mas se certifique que são realmente turísticos.
O indiano não é capaz de dizer que não sabe, quando você faz uma pergunta, então o bom é perguntar para mais de uma pessoa, e nunca fazer perguntas do tipo: "É pra lá o lugar tal?", pergunte para onde fica o lugar que você quer ir.
No geral, a Índia não é um país perigoso, dento os devidos cuidados, usando roupas adequadas, não saindo a noite sozinha, nada de acontece.
O país é realmente barato. Não recomendo comprar roupas, porque elas são de baixa qualidade, mas pode-se comprar muita coisa e gastar pouco. Sempre barganhe o preço, o problema não é porque você é turista, o problema é porque é cultural, eles criam um relacionamento com o cliente, por isso tem que barganhar sempre o preço. É claro que turista sempre vai pagar mais do que local, mas não aceite o primeiro preço, porque eles são uma fortuna, e os indianos gostam desse jogo da barganha.
Não pense em achar na Índia exposição de algum pintor europeu famoso ou algo do tipo, mas vá aos muitos museus de cultura indiana, espalhados em quase todas as cidades. Filmes de bollywood estão em todos os canais de TV, normalmente em hindi, mas alguns tem legenda em inglês, se achar algum, veja e ria!
Uma coisa que me aborreceu, é o quão mais caro um turista paga para ir a um museu indiano, em relação a um indiano, o disparate de preço é enorme, no fim, eu só estava indo a lugares que eram de graça.
A comida indiana, quando feita sem muita pimenta é boa, então se achar algum lugar aproveite, comi currys aqui sem muita pimenta, deliciosos. O dal é um dos meus pratos favoritos da culinária indiana, é uma espécie de sopa de lentilha, quando se come com o arroz byriani, fica uma delicia. O difícil pra mim, na maioria das vezes era comer a comida toda, porque mesmo pedindo sem pimenta, o prato é apimentado... é o gosto deles, eles nunca acham que tem muita pimenta na comida.

Na Índia tem templo para todos os lados, esqueça a sujeira do chão, tire os sapatos e visite muitos, tanto templos hindus como budistas, alguns chegam realmente a impressionar, outros tem lindas histórias. E uma coisa me impressionou, budistas, hinduístas e muçulmanos convivem bem na Índia. Não vi problemas quanto a isso.

Bom, tirando a desorganização e sujeira geral do país, consegui aproveitar algumas cidades. Pushkar foi a cidade que mais gostei, gente de todos os tipos, indianos ou não, vivendo em harmonia, recomendo a todos.
Udaipur é a cidade mais linda que eu estive na Índia, com pessoas agradáveis, lugares agradáveis, limpa!!!
Apesar do choque e da sujeira, ir a Varanasi é indispensável, ver os indianos tomando banho se se benzendo no Ganges é algo único. Visite todos os templos da cidade, os hindus e os budistas, eles são muito diferentes entre si, mesmo sendo da mesma religião.

E importante, para vir para a Índia, tem que deixar a frescura em casa, trazer seu saco de dormir, não ligar para as pessoas te olhando todo o tempo e aproveitar o máximo.
Se eu volto um dia a Índia, eu não sei... talvez para conhecer lugares que tive vontade e não deu tempo nessa viagem, talvez não, o mundo é tão grande e tem tantos lugares que eu quero conhecer...

4 comentários:

  1. Licia,
    Esse pensamento traduz o seu sentimento declarado neste post:
    "Não quero que minha casa seja cercada por muros de todos os lados e que as minhas janelas estejam tapadas. Quero que as culturas de todos os povos andem pela minha casa com o máximo de liberdade possível."
    Um presente de Mahatma Gandhi pra você.

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  2. Licia,

    Li toda a sua experiência nesses meses de viagem..e que viagem!!! Realmente viajei com vc,nos seus relatos e fotos! Parabéns, uma vivencia que levará para sempre com vc!! Muito legal!!

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  3. India, sempre india, paz totalmente louco e interessante, axo q as vezes chega a ser mais interessante q o brasil, amo cultura. :D

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  4. Oii como eu faço para ter contato com você? Obrigada!!!

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